A Direcção da UNITA decidiu prorrogar o prazo para a apresentação de candidaturas ao cargo de presidente do partido por questões relacionadas com “aspectos técnicos e logísticos”, de acordo com uma nota enviada à comunicação social. Para já existem alguns pré-candidatos: Adalberto da Costa Júnior, Estêvão José Pedro Kachiungo, Alcides Sakala Simões e Abílio Kamalata Numa.
O novo prazo fixado pelo Comité Permanente da Comissão Política da UNITA é agora o próximo dia 7 de Outubro. Em face do novo prazo, o partido do “Galo Negro” fixou ainda o período entre 7 e 28 de Outubro para a realização das conferências comunais, municipais e provinciais.
Quatro dirigentes da UNITA manifestaram já a intenção de se candidatarem à liderança do partido, perfilando-se como sucessores de Isaías Samakuva, o actual presidente, que já cumpriu quatro mandatos, indicou fonte próxima do processo.
Adalberto da Costa Júnior, Estêvão José Pedro Kachiungo, Alcides Sakala Simões e Abílio Kamalata Numa são quatro pré-candidatos à corrida para a presidência da UNITA, que já manifestaram essa intenção.
O actual líder do grupo parlamentar da UNITA e deputado da 6.ª Comissão da Assembleia Nacional (Saúde, Educação, Ensino Superior, Ciências e Tecnologia), Adalberto da Costa Júnior, parte como um dos favoritos, tendo em conta o manifesto de apoio à sua candidatura, que inclui 126 destacados militantes do partido.
Caso avance como candidato, José Pedro Kachiungo, primeiro vice-presidente da bancada e deputado da 4.ª Comissão (Administração do Estado e Poder Local), irá tentar ascender ao posto máximo da UNITA pela segunda vez, depois de ter saído derrotado por Samakuva nas eleições de 2011.
Alcides Sakala Simões, porta-voz, secretário para as relações internacionais da UNITA e deputado da 3.ª Comissão (Relações Exteriores, Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas no Estrangeiro), é outro dos potenciais candidatos a disputar a presidência do partido do “Galo Negro”.
Abílio Kamalata Numa, ex-deputado, general na reserva e antigo secretário-geral do partido, actualmente membro do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA, também concorreu contra Samakuva em 2011.
Kamalata Numa assumiu já ser candidato, através do Facebook, evocando as ideias do fundador do partido, Jonas Savimbi, e a sua experiência política e militar para se apresentar “com humildade” ao serviço dos angolanos e da UNITA, com o objectivo de “aprofundar os caminhos” que elevem a organização a um “Partido Pan-africano moderno”.
Quanto ao actual líder da UNITA, Isaías Samakuva, de 73 anos, “não manifestou intenção e não deverá avançar” com uma nova candidatura à presidência do partido, que lidera há 16 anos.
O novo presidente da UNITA será escolhido durante o XIII Congresso Ordinário do maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que existe em Angola, que se realiza entre 13 e 15 de Novembro, em Luanda.
Até lá, terão de ser formalizadas e aprovadas as candidaturas que serão posteriormente submetidas ao crivo da comissão eleitoral, para avaliar o cumprimento dos requisitos necessários, um processo previsto nos regulamentos partidários.
Ter apoio das bases do partido e reunir 1.000 assinaturas de militantes das 18 províncias estão entre os requisitos para a eleição de um novo líder da UNITA.
As autarquias, com as primeiras eleições previstas para quando o MPLA quiser (talvez em 2020), e as eleições gerais de 2022 também constam da agenda do próximo congresso da UNITA.
O anterior congresso do partido, fundado em 1966, ocorreu em Dezembro de 2015, no município de Viana, a leste de Luanda, na presença de 1.165 delegados, que reelegeram Samakuva como líder, com 949 votos, derrotando Paulo Lukamba Gato (167 votos) e Kamalata Numa (25).
Em 13 de Março deste ano, numa declaração alusiva ao 53.º aniversário, a Direcção da UNITA considerou actuais os objectivos da fundação do partido, face à necessidade urgente de “mudanças políticas profundas para a dignificação dos angolanos”.
A Direcção da UNITA referiu que os cinco pilares fundamentais da sua criação, “o ‘Projecto de Muangai’ é actual e adaptável ao contexto de uma Angola pós-independente, carente de soluções adequadas aos problemas mais básicos que assolam a sociedade angolana”.
Galo depenado pelo MPLA e amarrado por Samakuva
Desde 2002 o Galo Negro deixou de voar. O visgo do MPLA mantém-no colado às bissapas. Os angolanos de segunda, que não os seus dirigentes, estão apanhar café às ordens dos novos senhores coloniais. Houve uma altura em que a UNITA resolveu o problema do visgo. Calculou-se então que o Galo iria voar. Ledo engano. O MPLA/Estado tinha-lhe cortado as asas.
De uma forma geral a memória dos angolanos, neste caso, é curta. Importa por isso ir relembrando algumas coisas, mesmo quando se sabe que se não fosse o MPLA a cortar as asas ao Galo Negro, alguém da própria UNITA se encarregaria de o fazer.
Com a independência, os camponeses do planalto e sul de Angola sonharam (ainda hoje continuam a sonhar) com o fim do seu recrutamento forçado como escravos para as fazendas coloniais. A reedição da estratégia colonial por um governo supostamente independente foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
E agora? Agora (e depois de ter sido assassinado por alguns dos seus próprios militares) os seus discípulos mais ilustres preferem a escravatura de barriga cheia do que a liberdade com ela vazia.
Será que se lembram dos que só foram livres enquanto andaram com uma arma na mão? Há muito que, por obra e graça do MPLA mas – igualmente – por incapacidade dos seus quadros, se prevê o fim da UNITA.
Jonas Savimbi morreu em Fevereiro de 2002, em combate e às mãos de alguns dos seus antigos generais. Foi aí que começou a morrer a UNITA. De morte lenta, é certo, mas igualmente (tanto quanto parece) de forma irreversível.
Talvez pouco adiante continuar a dizer que a vitória seguinte começou com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá.
Apesar de todas as enormes aldrabices do MPLA, as eleições acabaram sempre por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas por alguns dos “generais” da UNITA.
As hecatombes eleitorais, sociais e políticas mostram que a UNITA não estava, como continua a não estar, preparada para ser governo e quer apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu até agora na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato e Samuel Chiwale.
Terá sido para ver a UNITA a comer e calar, a ser submissa, a ser forte com os fracos e fraquinha com os fortes, que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saber como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana. É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.
Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Não é de crer que Homens como Paulo Lukamba Gato, Kamalata Numa e muitos, muitos, outros, tenham deitado a toalha da luta política ao tapete. Também não cremos que aceitem trair um povo que neles acreditou e que à UNITA deu o que tinha e o que não tinha.
E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, sem emprego, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como dizia o arcebispo do Huambo, D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão.
Esperemos para ver o que os candidatos trazem de novo. Por último, veremos se Savimbi não voltará a ter razão quando dizia: “Vocês é que estão a dormir… por isso é que o MPLA está a aldrabar-vos”.
Folha 8 com Lusa